Texto: como melhorar e por onde começar

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Fábio Ochôa

A Fuerza ocasionalmente convida profissionais de diversas áreas para discorrer sobre o impacto da tecnologia nos seus campos de atuação. São pessoas que admiramos e acompanhamos. E hoje, com a palavra um grande parceiro, amigo e colaborador.

Faz um tempo que estabelecemos este espaço aqui como um espaço de reflexão, debate e compartilhamento. A nossa empresa circula pelo mundo inteiro criando sites, apps e jogos. Porém, como codar está na categoria “mistérios indecifráveis da humanidade” para mim, ali, ali, junto da construção das pirâmides do Egito e da fórmula do Cheetos Requeijão (um negócio que CLARAMENTE faz mal e ainda assim consegue ser bom pra Diabo) achei melhor usar esse espaço para falar da parte que me cabe desse latifúndio: ou seja, texto.

Ou, como melhorar um texto.

Afinal, se tem algo que as redes sociais nos ensinaram é que não importa em qual lado do espectro político você se encontra, sua religião, orientação sexual ou pauta que acompanha, em algum momento você VAI fazer um textão.

E de acordo com a qualidade desse textão, ele pode até levar você para um outro lugar.

Os meus me levaram para Porto Alegre.

DICA 1 – UM BOM COMEÇO E FINAL JÁ É MEIO CAMINHO ANDADO

Comece e termine bem seu texto que todos os problemas no meio do caminho serão perdoados. É tão simples quanto isso.

O CÉREBRO PRECONCEITUOSO

Bom, sendo óbvio e redundante, o começo é literalmente a primeira coisa que seu leitor vai ler e, por tabela o que vai decidir se ele fica a bordo ou não.

As dicas básicas:

Seja curto.

Seja incisivo.

Não seja formal.

Não seja inseguro.

Seja impactante.

E quanto mais sair do lugar comum, melhor.

O nosso cérebro é treinando para captar o maior número de impressões a um primeiro olhar. É um mecanismo de sobrevivência básico na verdade, que não conseguimos apagar em 6 mil anos de civilização.

Na época em que vagávamos pelas savanas, essa capacidade de tirar conclusões – e reações – rápidas era um condicionante para a sobrevivência, era a diferença entre comer ou não aquele cogumelo que poderia te matar, entre evitar ou não a tempestade que se aproximava ou se aquele barulho misterioso no mato era um tigre à espreita ou um animal inofensivo.

O cérebro também é um órgão energeticamente caro. Muito. Gasta muita energia, cerca de 20% de tudo que consumimos*. Nenhum outro chega perto, o coração, por exemplo, faz seu trabalho com metade disso. Por isso mesmo, ele poupa energia pegando alguns atalhos. Pegamos uma impressão inicial e elegemos uma série de conclusões a partir do primeiro momento.

Infelizmente é a base também de um problema que nos acompanha desde sempre: preconceito. Algo que antecede o conceito, travar um julgamento sobre algo antes de conhecer de fato. Vem pintado com uma cor diferente? Deve ser uma ameaça. Usa outro tipo de roupa? Deve ser de uma tribo rival.

Essa economia de pensamento – e por tabela, economia de custo energético – permeia as decisões mais simples em nosso dia a dia. Foi complicado entrar no app? Não vale a pena usar. Toda a usabilidade deve ser igualmente complicada.

A primeira frase do texto foi chata ou complicada?

Todo o resto do texto deve ser.

ARTE É CAÇA

Quanto mais comum e formal for o começo de um texto, mais perdemos a atenção do leitor, mesmo que ele permaneça a bordo. O cérebro entende que já viu/leu aquilo antes, aquilo cai em uma esfera de reconhecimento, em uma zona de, digamos, domesticidade.

Quanto mais estranho e instigante for o começo, mais ele força a atenção, até por não sabermos onde aquilo vai parar.

Então, o texto começa assim:

Texto: como melhorar e por onde começar

Por aqui. Óbvio.

Mas poderia ser assim:

Texto: como melhorar e por onde começar

Pra começar parando de fazer mancada.

Ou assim:

Texto: como melhorar e por onde começar

Lendo, praticando, estudando e acima de tudo, parando de fazer mancadas.

Ou assim:

Texto: como melhorar e por onde começar

Por essas dicas marotas, claro.

Ou assim:

Texto: como melhorar e por onde começar

Bom, se você está aqui, já começou.

Sobre atenção: tem um ensaio do dramaturgo David Mamet sobre a arte nos colocar em estado de caça. Eu gosto bastante dessa ideia.

Segundo Mamet, consumimos arte para “caçar em condições seguras”. Queremos a excitação que uma caçada traz, a alteração emocional – seja de que tipo for – só que sem os riscos reais da caçada.

Porque caçar nos lembra de que estamos vivos.

A cada cena que se sucede de um filme, ou momento em uma peça de teatro, página de quadrinhos, ou livro, ou parágrafo de um texto você não sabe o que vem a seguir. Esse é o suspense que nos mantém presos e focados à obra.

Quanto mais comum e familiar o parágrafo a seguir, mais essa atenção se dispersa. O objetivo é sempre manter o leitor em alerta. A familiaridade mata a atenção.

A MEMÓRIA ADORA UM BOM FINAL

Ao fim da leitura entramos em outra etapa, o cérebro começa o processo de arquivamento e seleção do que viu.

De maneira bem simples, ou guarda ou vai pra lata de lixo da memória.

Um final ou frase final igualmente impactante ajuda que é uma beleza nesse processo de arquivamento. É um Punch no leitor, logo antes de encerrar as cortinas. Ele recebe o soco e em seguida acaba. E nos segundos após ler está última linha, o texto segue vivo em sua cabeça, processando esse impacto final.

Dois finais exemplares nisso, a frase de encerramento de A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Onde os animais da fazenda resolvem espiar a ceia entre os porcos que lideraram a revolução e seus rivais humanos. Todos ceiam juntos, a ponto de não conseguirmos mais saber quem é quem, porcos e humanos são iguais.

Fim.

“Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”

Ao longo do livro inteiro vemos a transformação – metafórica – dos porcos nos humanos que eles depuseram. A lição de Orwell é clara: o poder corrompe e nivela déspotas e revolucionários. Ao encerrar dessa forma, a questão fica em nossa cabeça, enquanto processamos tudo aquilo que acabamos de ver.

Um outro encerramento fenomenal é o do filme injustamente esquecido Confissões de uma Mente Perigosa, escrito por Charlie Kaufman e dirigido – com surpreendente primor, inclusive – por George Clooney. Confissões… parte da autobiografia Chuck Barry, o criador dos “gong shows”, que conhecemos aqui como Show de Calouros, onde pessoas comuns passam vergonha na televisão tentando ganhar algum prêmio. Em vez de escolher pessoas de talento, Barry escalava justamente os tipos mais estranhos e desafinados, apostando no ridículo e no mal gosto.

O ponto é que a autobiografia de Barry é no mínimo controversa. De uma maneira bastante surtada ele afirma com todas as letras que seu trabalho como produtor de TV era apenas um disfarce e seu verdadeiro ganha-pão era como agente secreto e matador da CIA. Um negócio doido. Mas Clooney e Kaufman partem justamente dessa esquisitice toda, sem julgar o que é verdade e o que – obviamente – não é.

Barry é considerado um dos responsáveis por transformar a televisão em algo baixo, apostando na humilhação. E o monólogo final do filme fecha essa maneira de maneira completamente sintética e impactante.

No monólogo, Barry, na voz do ator Sam Rockwell afirma que deseja voltar à TV. Ele tem uma nova ideia, um programa chamado “The Old Show”, onde ele vai chamar pessoas idosas, perguntar o que eles queriam ser da vida, seus sonhos de juventude e esperança e vai perguntar quantos atingiram o que queriam. Quantos chegaram pelo menos perto disso.

Quem não der um tiro na própria cabeça, é o vencedor.

Ele ganha uma geladeira.

Seguindo as regras que estabeleci aqui eu deveria fechar com uma frase curta e de impacto para ajudar a gravar o texto, mas é difícil porque tudo parece café com leite depois de um final destes.

Porra, Clooney, aí você me fode…

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