Harmonizando na Conexão Remota: O Equilíbrio entre o Descanso e o Trabalho
A Fuerza ocasionalmente convida especialistas de diversas áreas para discorrer sobre o impacto da tecnologia nos seus campos de atuação. São pessoas que admiramos e acompanhamos. E hoje, com a palavra um grande parceiro, amigo e colaborador.
A vida moderna é um frenético baile de passos acelerados, onde a linha entre vida pessoal e profissional muitas vezes se confunde, até que os dois mundos parecem uma só coreografia. De forma poética, quero dizer que, nesse cenário, o equilíbrio entre produtividade e autocuidado tornou-se um tema crucial, especialmente na era da conexão remota pós-pandemia. Como psicólogo, entendo a necessidade de encontrar harmonia nesse ambiente em constante mutação. É por esse motivo que, neste artigo, compartilho minhas reflexões sobre a importância do descanso e a imperiosa busca pelo equilíbrio entre trabalho e lazer.
A pandemia redesenhou nossas vidas, deixando um rastro de impactos individuais e coletivos. Para muitos, o trabalho remoto se apresentou como uma nova realidade, exigindo adaptação e transformações. No meu caso, foi nesse período de isolamento social que conheci a Fuerza Studio. Eu sou do RJ, a empresa do RS e os funcionários estão espalhados pelo Brasil afora – logo, o contato com outras culturas, modos de se relacionar e de viver eram diferentes, inevitavelmente. Particularmente, a experiência foi (e está sendo) incrível e única, no entanto, entendo que o valor dessas mudanças é subjetivo, variando de acordo com as circunstâncias de cada um. Enquanto alguns anseiam por nunca mais retornar ao ambiente presencial, outros sentem falta da rotina compartilhada de um escritório. Independente do desejo de permanecer com esse modelo de trabalho ou não, o fato é que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se faz necessário em qualquer modelo, mas o escritório delimita um espaço próprio para a execução do trabalho. Já a casa (no ambiente remoto) precisa passar por um ressignificado, e por isso, novos desafios surgem e precisam ser superados.
Essa mudança drástica, de transformar o lar em escritório, impõe a tarefa desafiadora de equilibrar espaço pessoal e produtividade profissional. Aquele lugar que costumava ser refúgio transformou-se num ambiente onde as demandas de trabalho se entrelaçam com o cotidiano, trazendo consigo desafios únicos. É comum escutar algo sobre “continuei trabalhando mais um pouquinho, só pra adiantar uma tarefa” ou “o cliente mandou um e-mail pedindo um ajuste, vou fazer agora, é rápido”. De todo modo, a falta de gestão de tempo transforma a flexibilidade do horário de trabalho em um grande vilão, pois perde-se a noção de um momento específico para trabalhar. Alguém se identifica?
Apresentando algumas possíveis estratégias para tornar esses espaços e momentos mais adaptativos: designe um espaço específico em sua casa exclusivamente para o trabalho, pra estabelecer limites claros entre o tempo de trabalho e o tempo de lazer. Além disso, tente ajustar a iluminação (se possível, trabalhe perto de uma janela, para que receba luz natural). Mantenha o seu cenário de trabalho organizado e agradável, para evitar distrações visuais. Por fim, crie uma rotina estruturada, com horários fixos (mesmo que você trabalhe em horários flexíveis, estabeleça bem os intervalos de trabalho e descanso, para conseguir delimitar momentos de trabalho e lazer).
Para além desses desafios já apresentados do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, temos também os próprios desafios que o trabalho remoto acarreta. No cenário de interações virtuais, lembro das contribuições de Erik Erikson para a compreensão da formação de identidade. Sua exploração sobre os desafios do “isolamento vs. intimidade” torna-se particularmente relevante. A conexão virtual, apesar de sua natureza tecnológica, pode suscitar uma sensação de isolamento emocional. A ausência do contato humano, das saídas pós expediente, das conversas despretensiosas, dos encontros imprevistos no corredor do escritório, da fluidez das conversas cotidianas… Isso precisou ser ressignificado quando houve a mudança para o ambiente remoto. Nesse “novo” ambiente, cada conversa precisa ser solicitada (por exemplo, mensagens assíncronas, agendamento de calls), e quando interagimos em tempo real, nem sempre conseguimos ao menos ver o rosto da pessoa do outro lado da tela. Como essa mudança ainda é muito recente, o processo adaptativo ainda está em curso, trazendo esses desafios apresentados para aqueles que sentem a necessidade do “calor humano”.
Até agora, não sei qual sentimento aflorou em você com maior destaque, mas é compreensível se você não tiver boas perspectivas. Entretanto, um olhar mais amplo revela um horizonte otimista. Assim como terapeutas estabelecem conexões profundas com seus pacientes, as interações virtuais oferecem a oportunidade de superar barreiras geográficas. Através das telas, podemos cultivar relações autênticas com pessoas de todas as partes do mundo. Esse contato virtual genuíno se torna vital para lidar com o desafio do isolamento. Se por um lado perdemos o contato humano, por outro, ganhamos a possibilidade de nos comunicarmos com qualquer pessoa que esteja online. A Fuerza utilizou (e ainda utiliza) uma plataforma chamada Gather, que facilita as interações espontâneas com as pessoas que estão utilizando. Além disso, realizamos momentos de maior descontração (como o chamado All Hands). Para além do que a empresa pode oferecer, também é importante que cada um busque formas de se reinventar nesse novo cenário, talvez mudando o local de trabalho para diversificar o espaço – existem os chamados coworkings, onde é possível trabalhar em um ambiente público e compartilhado, específico para isso. Ou ainda, buscar agendar momentos frequentes com pessoas (sejam do trabalho ou não) para conversar sobre algo específico ou simplesmente divagar.
Já falamos sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e os desafios das relações humanas nesse novo cenário. Porém, num contexto onde os limites entre trabalho e vida pessoal são tênues, encontrar momentos de pausa ganha o status de uma forma de autodescoberta. Paralelo à terapia, onde a reflexão traz clareza, a pausa oferece espaço para pensar, respirar e restaurar. Criar pequenos oásis de tranquilidade em meio à turbulência diária tornou-se essencial.
Ainda usando analogias da minha área: assim como pacientes aprendem a ter consciência e equilibrar os sentimentos no processo clínico, também precisamos ter consciência da necessidade do repouso e equilibrá-la no ambiente remoto. Dadas as condições de cada empresa, a flexibilidade desse ambiente nos permite criar horários que respeitem nossos ritmos naturais. Então, tente não negligenciar a importância de cuidar de si mesmo. Incorporar práticas ergonômicas, relaxamento, meditação e exercícios são fundamentais para garantir melhores condições do exercício de cada função.
Concluindo essa nossa conversa reflexiva, proponho que mergulhemos em nossas histórias contemporâneas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional no ambiente remoto.
Finalizando de forma poética (assim como o início desse artigo), o cenário pós-pandêmico nos convida a dançar essa nova sincronia, onde as notas da produtividade se entrelaçam com as pausas que resgatam nossa humanidade.