
Planejamento, planos e planejadores

Rodrigo Meurer
mar 28, 2025
Análise crítica ao artigo "The Fall and Rise of Strategic Planning" de Henry Mintzberg, 1994
Entre os principais autores renomados que tratam sobre planejamento estratégico, está o gênio Henry Mintzberg, ao qual dedico grande admiração por seus textos ainda atuais. Na década de 1990, Mintzberg postulou muitas teorias e proposições analíticas sobre o processo de formação das estratégias nas empresas.
Após a proposição de modelos de formulação e formação da estratégia, dos "5 P´s" (Plano, Padrão, Posição, Perspectiva e Pretexto) à postulação de estratégias "deliberadamente emergentes", fica claro no artigo "The Fall and Rise of Strategic Planning", de 1994, a importância que Mintzberg destaca às questões emergentes da formação da estratégia, acima da necessidade de formalização das mesmas. O "planejamento estratégico", que pressupõe na sua origem um plano detalhado, com instruções específicas, dá lugar na visão de Mintzberg ao significado do "pensamento estratégico", mais relacionado a visão dos gestores. Retomando as idéias do autor no artigo "Crafting Strategy", fica claro que a estratégia para este é um processo de envolvimento dos líderes ou estrategistas com a companhia, detecção de padrões emergentes, entendimento de sua história, capacidades, ambientes e possibilidades futuras, e síntese de todo este conhecimento na formação da estratégia - o que envolve muito mais intuição e criatividade. Para Mintzberg é desta forma que as empresas devem delinear seus objetivos e os meios para alcançá-los, ou seja, o pensamento estratégico vem antes e acima de colocar no papel aquilo que já é feito na organização.
A partir destes pressupostos então reajusta-se a função dos planejadores estratégicos nas organizações. Ao invés de assumirem o papel do planejamento estratégico em si, estes passam a fornecer e desenhar os dados e informações necessárias ao processo de formulação estratégica, passam a auxiliar os gestores nos processos de tomadas de decisão, com todo seu ferramental, e em um processo que Mintzberg nomeia como "programação estratégica" partem então para a definição formal dos rumos que a empresa tomará. A estratégia portanto é algo que está ocorrendo constantemente dentro da organização, emergindo a qualquer momento e de qualquer posição e dificilmente este processo poderá ser visto de forma explícita em gráficos, relatórios e diagramas. As organizações que tentam partir sempre do processo formal de planejamento, correm o risco a tornarem-se altamente engessadas, tolhendo o espaço da criatividade e inovação entre seus colaboradores. Na verdade, este formato pode tornar-se arriscadamente controlador - os meios já estão dados, não importando a opinião ou habilidades dos que estão abaixo na hierarquia.
O autor apresenta ainda alguns enganos comuns em relação a processo de planejamento estratégico. Assim como visto nas teorias de tomadas de decisão, é praticamente impossível ter-se a certeza sobre a decisão acertada devido a infinidade de possibilidades e alternativas a serem analisadas, compreendidas e assimiladas. Da mesma forma, a predição do que estar por vir, das mudanças que o ambiente externo à organização enfrentará - desde alterações no mercado, novas leis impostas pelo governo a fatalidades como guerras - das ações da concorrência, novas possibilidades de negócio, inovações tecnológicas e tantos outros fatores, torna-se inviável ter com alto grau de confiança alguma certeza - embora muitos possuam uma capacidade de visão maior sobre estes fatores. As organizações correm o risco de planejar sobre uma realidade que em seguida estará substancialmente alterada, e os planos já não façam mais sentido, levando a necessidade de replanejamento constante. Outro engano comum, é o de que os líderes e estrategistas podem tomar suas decisões somente a partir das informações trazidas pelos planejadores, ou seja, que somente os dados e informações são suficientes para as suas decisões estratégicas. É uma tendência que vêm da idéia de separação entre pensamento e ação. Ao contrário disto, é necessário, como mencionado anteriormente, o completo envolvimento e domínio de como a estratégia emerge em cada posição ou processo organizacional - os líderes não podem ser ausentes ao processo de formação da estratégia que ocorre nas mãos e mentes de cada gerente e funcionário da organização. Deverão, sim, estar atentos a cada detalhe, principalmente àqueles subjetivos, que surgem de conversas, decisões informais, que nunca estarão expressos em um relatório formal.
Mintzberg também aponta a possibilidade das empresas trabalharem com ambas figuras: planejadores e gerentes, o primeiro voltado para análise e o segundo para a ação e comprometimento com a estratégia. Na atualidade, algumas empresas adotam sistemas semelhantes, quer seja com um departamento específico para planejamento, ou como no caso da Serasa, que inova com a duplicação de algumas posições no organograma - suas principais áreas possuem dois diretores, um voltado para os processos do dia-a-dia e outro responsável por pensar a estratégia (Silveira, 2006). Mintzberg define ainda dois tipos de planejadores, os "destros" (que usam o lado esquerdo do cérebro) com perfil mais convencional e os "canhotos", mais ligados ao processo criativo e intuitivo, indicando ambos serem necessários em todos os tipos de organização. O que se torna duvidável para o contexto atual, é sua proposta de que algumas organizações como hospitais e instituições educacionais supostamente prefeririam ter poucos elementos de qualquer um dos tipos em seu meio - atualmente, cada vez mais as instituições nestas áreas buscam uma visão de "negócio" entre suas atividades e alcance de sua missão, passando por adaptações devido a instabilidade do mercado (especificamente as educacionais) que requerem bons planejadores em sua organização.
Enfim, o processo estratégico nas organizações revela uma combinação de ações deliberadas e emergentes, que depende do envolvimento dos que se propõe a formulá-lo, sejam gestores ou planejadores, de forma a identificar estratégias que emergem em toda a organização, de pensar e criar novas estratégias e tenham capacidade de convertê-las e comunicá-las, resultando nas ações práticas a serem tomadas por todos os seus membros. A tendência natural para a formalização dos processos deve ser levada com cuidado, de forma a não se tornar excessiva e impeditiva dos processos também naturais de criação.
Bibliografia
MINTZBERG, H. The Fall and Rise of Strategic Planning. Harward Business Review; January-February, 1994.
SILVEIRA, Mauro. Idéias Simples que dão Resultados. Revista Exame, ed. 864, ano 40, No. 6, 29/março/2006. Editora Abril S.A.